Néle Azevedo
05.2007
Na virada cultural promovida pela Secretaria Municipal de Cultura - SP, em maio de 2007, o monumento foi usado novamente como referência.
A proposta foi criar um anti-monumento Glória às lutas inglórias no Páteo do Collegio para se contrapor ao obelisco ali existente denominado Glória Eterna aos fundadores de São Paulo.
O título é um verso da canção de autoria de Aldir Blanc e João Bosco que utilizei para celebrar o que não é celebrado oficialmente, ou seja: os que perderam na colonização e na construção da cidade.
O anti-monumento foi então construído com mais de duzentos caixotes cheios de frutas. Um grande desenho horizontal e aberto formava um grafismo dos povos Guaranis no mesmo tamanho do obelisco ao lado. Em meio ao desenho, muitas esteiras de palha no chão criavam espaços de convivência. Ao final da construção, o público foi convidado a celebrar através do sabor das frutas, da interação dos sentidos - a memória da vida aqui e agora.
Vale lembrar que foi no “Pateo” que a cidade de São Paulo começou. Ali os jesuítas da Companhia de Jesus fundaram o colégio onde os princípios do cristianismo foram levados aos povos indígenas. Hoje é uma praça rodeada por uma arquitetura neoclássica imponente, com prédios que sediam o Tribunal e a Secretaria de Justiça. No centro, o obelisco de autoria do escultor Amadeu Zani, Glória imortal aos fundadores de São Paulo.
A ambigüidade do monumento - o que ele revela e o que ele esconde - fica clara ao olhar o conjunto arquitetônico da praça. Carrega o eco de nossos mortos, de uma outra possibilidade de organização de espaço, de visão de mundo, enfim, de uma outra cultura.
Procurei trazer à luz essa ambigüidade do monumento e resignificar a memória pública. Incluir o que se oculta na celebração oficial da história.